sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Lira amorosa em três movimentos


Ato I

Nosso encontro era como uma revoada de pássaros belos e de uma luxuria inocente, e cada bater de asas deixava solto um aroma desconhecido, que transcendia toda a carne, os lábios, seu rosto. Palavras eram desnecessárias, as caricias eram meros atos decorativos. Olhares antes do sono hipnótico.

Ato II

No sono hipnótico duas esfinges premeditam uma cruel chacina. As bocas ameaçam, os corpos se chocam; porem lá já não é nossa morada; Aqui onde estamos olhos permanecem vendados, bocas não mais se tocam, corpos são paisagens múltiplas desvendadas a cada toque, e aqui cada toque é por essência obstinado a romper barreiras. Eu juro: romperemos o amanhã.

Ato III


O amanhã vem em passos escusos. E de nosso relutante inimigo, só conhecemos sua arma; um punhal inflexível a que chamamos de tempo. Mesmo antes de sua chegada já existem marcas de dor; na cama, atrás da porta, descendo a escada... Triste pensar que já não somos mais mistério, que hoje, desveladas as mascaras somos apenas carne, promessas e passado.

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